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GRAPHPRINT SET/09
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ARTIGO
Os resultados financeiros do primeiro semestre, divulga-
dos recentemente pelas indústrias nacionais que atuam
na produção de celulose, apontam que as consequências
da crise não foram tão avassaladoras quanto se esperava
para esse setor. A redução no preço do insumo no mer-
cado mundial, motivada pela baixa da demanda, acabou
sendo, de certa forma, benéfica para os produtores brasi-
leiros, uma vez que alguns dos principais “players” ame-
ricanos, europeus e chineses acabaram abandonando ou
reduzindo substancialmente suas operações de celulose
por falta de competitividade no mercado internacional.
Com isso, a indústria brasileira de papel volta cada vez
mais seus olhos para celulose, e vem ganhando espaço
no mercado mundial. Está sendo assim agora, e deverá
ser ainda mais no futuro, já que o Brasil tem vocação para
se tornar o principal produtor de celulose do mundo. Além
de amplas áreas para cultivo, fertilidade do solo e bom
índice pluviométrico para o desenvolvimento da madei-
ra, a celulose oferece retorno do capital investido muito
maior do que o do papel, se produzido em nosso país.
Porém, a consolidação do Brasil como grande fornecedor
passa por um momento crucial, que deve ser acompanha-
do com muito cuidado por todos do setor, e mais ainda
pelos produtores. O aumento da demanda por parte da
indústria de papel asiática, principalmente a chinesa, e a
redução dos estoques em todo o mundo, vêm puxando os
preços da celulose novamente para cima desde o fim do
primeiro trimestre e, nesse momento, a tonelada já ultra-
passou os US$ 500 para vendas em alguns países.
Do outro lado, a indústria nacional, movida pelos inte-
resses naturais de valorizar suas ações e alavancar seus
balanços financeiros – que foram prejudicados pelos
maus resultados de suas operações de produção de pa-
pel – vêm estimulando o aumento do preço da celulose e
anunciando reajustes.
Caso o preço do insumo no mercado internacional efe-
tivamente ultrapasse os US$ 600, sua produção volta a
ser rentável para as indústrias americanas, europeias e
chinesas, que, no auge da crise, abandonaram a produção
da celulose por causa da sua desvalorização. O retorno a
O dilema pós-crise da
celulose brasileira
*Por Geraldo Ferreira
essas operações seria muito simples e poderia aconte-
cer rapidamente, já que a parada das máquinas é muito
recente e os ativos continuam à disposição. Portanto, se
trata de uma linha muito tênue que separa um ambiente
de mercado extremamente positivo para a celulose brasi-
leira de outro ainda mais competitivo e hostil e com o qual
devemos ter muito cuidado.
Aí vem a pergunta: seria interessante para a indústria na-
cional despertar antigos concorrentes e reingressar em
uma guerra que já estava vencida? É por esse motivo que
os produtores devem agir com inteligência, garantindo a
estabilidade do preço da celulose brasileira e o cenário de
“oceano azul” para os próximos meses. 
* Geraldo Ferreira é diretor geral para o Brasil da Asia Pulp and Paper,
uma das maiores empresas do mundo na área de papel e celulose