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ARTIGO
GRAPHPRINT DEZ 13
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A recente palestra do diretor de criação da Agência África, Sérgio Gordilho, no Festi-
val do Clube de Criação de São Paulo, na qual salientou a importância e eficácia da
comunicação impressa, corroborou opinião de numerosos especialistas no tema em
todo o mundo. Dentre eles, o grande escritor e linguista italiano Umberto Eco, que, em
numerosas oportunidades, vem expressando sua convicção de que o livro de papel
e os meios gráficos serão perenes, pois agregam imensa credibilidade e podem ser
arquivados durante séculos.
De fato, parece exagerado e despropositado o vaticínio que se tem observado na im-
prensa e debates sobre o assunto relativos à extinção do impresso e sua substituição
pelo eletrônico. A rigor, como se pode concluir de modo mais isento, numa ilação com
as análises de Umberto Eco e Gordilho, é que sequer há antagonismo entre ambos.
São eles complementares na missão civilizatória essencial de democratizar o acesso à
informação e ao conhecimento, na qual se ancora a maior e mais concreta esperança
de corrigirmos os problemas da sociedade globalizada e viabilizar um futuro melhor.
É preciso romper o paradigma do canibalismo de uma mídia tecnologicamente re-
volucionária contra as anteriores. A história mostra que não tem sido assim, pois até
hoje nenhuma dessas profecias fatídicas concretizou-se. Jornais, livros e revistas não
acabaram devido ao surgimento do rádio. Do mesmo modo, todos esses meios e o
cinema não sucumbiram ao advento da televisão!
A predição da vez é relativa à comunicação gráfica, que tem sido um dos principais ca-
nais do conhecimento, informação e cultura. Não há dúvida de que o e-book e demais
meios eletrônicos são irreversíveis. Porém, isso não significa o fim dos impressos.
Sempre haverá público para todas as modalidades dentre os 7 bilhões de terráqueos.
Seria impertinente e até ingênuo, por parte das editoras, indústrias gráficas, jornalis-
tas, publicitários, publishers e amantes da palavra expressa no papel, negar ou resistir
ao avanço do e-book e tecnologias eletrônicas. Tampouco é desnecessário discorrer
sobre as vantagens do livro e a comunicação gráfica em geral, sua magia, preço, pe-
culiaridades inerentes às artes da impressão e outros diferenciais. O importante é ter
consciência de que o mercado da comunicação, do jornalismo, da publicidade e do en-
tretenimento tem espaço para todos os meios. Cabe a cada um deles desenvolver-se,
agregar novas tecnologias, ampliar sempre a qualidade e se adequar às demandas de
uma civilização cada vez mais inquieta e dependente da informação.
Felizmente, todos têm sido eficazes no enfrentamento desses desafios. No cinema,
só a pipoca e o insubstituível encanto da telona são os mesmos. Imagem e som di-
gitais, três dimensões e poltronas confortabilíssimas, algumas até acompanhando os
movimentos dos filmes, ajudam a seduzir espectadores. O rádio, incansável prestador
de serviços, atingiu níveis excepcionais de qualidade. Os livros estão cada vez mais
bonitos, bem impressos, com diagramação atrativa e capas instigantes. Suas tiragens,
graças à tecnologia da impressão digital, que também não extinguiu o offset, adap-
Umberto Eco, Gordilho e as profecias
sobre a mídia impressa
Por Fabio Arruda Mortara*
tam-se às mais distintas demandas, títulos
e mercados. O mesmo se aplica a jornais,
revistas e as infinitas possibilidades da pro-
paganda e da publicidade impressas, como
enfatizou o diretor de criação da África, e
como tem preconizado Umberto Eco.
O impresso não acabará! Afinal, sucumbiria
com ele o universo lúdico e confiável da tinta
sobre o papel, no qual a humanidade convi-
ve há séculos, de maneira muito íntima, com
sua história, cultura, literatura, ciência e todo
o conhecimento que lhe permitiu sair das ca-
vernas e conquistar o cosmo!
* Fabio Arruda Mortara, empresário, é
presidente da Associação Brasileira da
Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e do
Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado
de São Paulo (Sindigraf).