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CRÔNICA
GRAPHPRINT MAR 11
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Gráfico, para nós, não é aquele apanhado de números, tra-
ços, parábolas e afins presentes nos meios de comunica-
ção. Gráfico, para nós, é ser gráfico, é comandar uma im-
pressora num ritmo alucinante. É lidar com a veia aberta à
tinta; é acompanhar o desenrolar da tensa bobina branca,
por meio dos motores das impressoras, ganhando cor e
vida com texto e foto.
Gráfico, para nós, profissionais da área gráfica, que anti-
gamente chamávamos unicamente de artes gráficas, é o
impressor. Sim, aquele cidadão que impulsiona ou freia
o impressionante ímpeto das modernas máquinas. Gráfi-
co, que é gráfico tem de saber lidar com o conta fio, num
gesto certeiro chega ao local exato da retícula e conhece
a combinação das cores, do verde ao amarelo, do branco
ao azul, sem exceção.
Já passei muitos anos num chão de fábrica; tive a opor-
tunidade de atuar com gráficos bem competentes. Par-
cimoniosamente lidei com patrões que sabiam o que era
o chão de fábrica. Alguns até montavam e desmontavam
suas impressoras. Há alguns anos, montamos uma im-
pressora para formulários contínuos na ‘unha’ e demos ao
equipamento a velocidade desejada. Nesse caso, ou nes-
sa ocasião, meu patrão era um senhor calvo, semblante
bravo, de naturalidade portuguesa e mestre na arte de se
embrenhar na desmontagem – e montagem – dos equi-
pamentos.
Lidei com outro sujeito que, acho eu, por osmose, sabia
todas as combinações possíveis – e impossíveis – das tin-
tas. Presenciei a aula que dera, certa feita, para um alto
executivo de uma grande companhia automotiva, quando
Gráfico aqui é diferente!
Arquibaldo Santiago - 89 anos, pai de três filhos, marido de Florência
Abreu e 58 anos de artes gráficas
a companhia solicitou a impressão da cartela de cores da
nova linha de carros. Infelizmente o sujeito da tinta, como
ficara conhecido, já nos deixou há anos. Seu conhecimento,
infelizmente, também.
O que não posso hoje, depois de bem mais de meio século
de vida, sendo 58 anos de artes gráficas, é deixar de di-
zer: gráficos são todos aqueles que compõem a indústria:
vendedores, gerentes, executivos, impressores, o pessoal
do acabamento, o pessoal da arte e até o cidadão comum.
Sim, somos gráficos - alguns menos e outros mais -, mas
todos, um dia, já sentiram o poder de uma impressão bem
impressa.
Meus longos anos de existência, sabiamente, tiraram minha
vitalidade. Minha visão já não é a mesma, nem meus mús-
culos. Mas ao deparar, frente a frente, com uma impresso-
ra – seja quatro, oito, ou sei lá quantas são possíveis hoje,
cores –, tenho a impressão de ter desenvolvido o dom de
domá-la, sem grito, nem dor. No braço. Na “catigoria” para
lembrar-se de uma expressão da minha época.
Dia 7 de fevereiro é o nosso dia. Dia 7 é o dia da impressora,
do papel, da tinta, do insumo, da blanqueta e do impresso
final. Dia 7 de fevereiro é o dia de todos nós. Aos jovens, ou
nem tão jovens assim, profissionais, meus sinceros para-
béns. Tenho a nítida impressão de que honrarei a indústria
gráfica até o fim da minha jornada, seja ela encerrada agora
ou daqui a alguns anos. Gráfico aqui é diferente.
Vida longa ao gráfico!