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Não faz marola

28/01/2009 - 00:01
Por Antônio Leopoldo Curi*

“Não faz marola”, de Antônio Almeida e José Batista, sucesso de 1958, é uma das mais antológicas marchinhas carnavalescas brasileiras. Um tanto esquecida nos últimos anos, a sua letra, entretanto, contém sábio conselho para estes tempos de crise: “Não faz marola pra canoa não virar. Marinheiro, marinheiro, toma cuidado com o mar...” Pois bem, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a tempestade internacional do subprime e dos derivativos, um verdadeiro tsunami para várias economias, representa apenas uma marola para nosso país. Porém, mesmo louvando o otimismo do chefe da Nação e torcendo para que ele esteja correto em sua tese sobre a dimensão nacional das ondas da crise, é pertinente lembrar o “conselho” dos compositores Almeida e Batista, que alertam, em sua marchinha, que as marolas também podem afundar a canoa.

Por isso, também conforme recomenda a música, os marinheiros deste imenso transatlântico chamado Brasil precisam, mais do que nunca, tomar imenso cuidado com o mar revolto do crash mundial. Isso significa, antes de mais nada, assumir, com objetividade e transparência, os reais problemas provocados pela crise no Brasil. Além disso — e decisivo —, é preciso adotar medidas concretas para atenuar seus efeitos, como a liberação do compulsório dos bancos, a isenção de IPI dos carros populares e a possibilidade de as empresas nacionais poderem ter recursos das reservas cambiais para operações internacionais. No entanto, tais providências são inacabadas, considerando que os juros ainda estão muito elevados e, mesmo para quem está disposto a arcar com as altas taxas, nem sempre há crédito disponível.

Todo o dinheiro liberado ainda não chegou aos setores produtivos. Dessa maneira, é preciso estimulá-los, mantendo elevada a sua confiança, principal fator para o enfrentamento de uma conjuntura de dificuldades. Acreditar que vale a pena investir, produzir, prospectar o mercado e as exportações é essencial à manutenção dos negócios e dos empregos. Por isso, o governo deve ir muito além do que já anunciou, reduzindo a nossa taxa de juros — que continua sendo a mais alta do mundo —, e estabelecendo o repasse obrigatório à indústria, ao comércio, aos serviços e ao agronegócio do dinheiro liberado às instituições financeiras pelo Banco Central. Outra medida urgente é a aprovação do projeto de reforma tributária em trâmite no Congresso Nacional.

Em 2007 e 2008, o Brasil teve crescimento econômico mais substantivo, depois de muitos anos de altos e baixos, mesmo numa conjuntura mundial muito favorável. No exato momento em que começamos a expandir o PIB de modo mais consistente, fomos pegos no contrapé por essa crise dos derivativos. É absolutamente inaceitável retroceder e perder tudo o que se conquistou nos últimos dois exercícios. Por isso, temos de nadar de braçada contra as ondas da crise mundial, sejam elas tsunamis ou marolas, não importa. E precisamos fazer isso com eficácia, para que não naufrague a esperança do crescimento sustentado e do desenvolvimento.

O carnaval de 2009 está próximo. Festa popular mais comemorada no País, nos traz a lembrança da marcha “Não faz marola” e os alertas de sua letra. Como acreditamos ser a voz do povo a voz deste brasileiro chamado Deus, vamos ficar atentos ao conselho e agir com firmeza, objetividade, competência e serenidade, para que enfrentemos as turbulências. A travessia desse mar revolto representa um duro embate. Contudo, pode ser vencido pelo Brasil, desde que haja senso de realidade, competência na condução da política econômica e sinergia entre todos, sociedade e governo.

*Antônio Leopoldo Curi é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Formulários, Documentos e Gerenciamento de Informações (Abraform).

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