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Uma angustiante conjunção subordinativa condicional

25/09/2008 - 00:09
Alfried Karl Plöger*

A possibilidade concreta de o mercado consumidor brasileiro tornar-se o quinto maior do mundo em 2030, apontada em novo estudo da Ernst & Young e FGV Projetos, implica imensa responsabilidade para os atuais e os próximos gestores da política econômica. Afinal, dependendo de sua performance, nas próximas duas décadas podemos ultrapassar potências como Alemanha, Reino Unido e França, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Japão, China e Índia.

Esse grande avanço da economia nacional seria concretizado se, nos 22 anos daqui até 2030, nosso PIB crescesse 4% por exercício, acumulando expansão de 150%, que o alçaria a US$ 2,5 trilhões. O melhor é que esses números expressam um Brasil com melhor distribuição de renda, menos desemprego, classe média mais consistente e consumo de bens de valor agregado mais alto. Ou seja, vale muito a pena um grande esforço no sentido de tornar reais as projeções feitas pelo estudo.

O próprio relatório, contudo, alerta que tais prognósticos somente irão concretizar-se se o País conseguir manter, nas próximas duas décadas, um fluxo efetivo de desenvolvimento sustentado. O problema reside exatamente neste “se”, uma conjunção subordinativa condicional cujo significado para a Nação extrapola em muito o campo gramatical. Infelizmente, ainda dependemos da adoção de um grande conjunto de medidas para garantir um fluxo duradouro de crescimento econômico substantivo.

Os 5,4% de expansão do PIB registrados em 2007 foram muito positivos, mas devem ser entendidos à luz de uma economia mundial ainda muito favorável, a despeito da crise dos Estados Unidos: um contexto internacional em que outras economias emergentes, como a China, Rússia, Índia e Chile, já vinham, há algum tempo, crescendo muito mais do que o Brasil. Não podemos nos iludir com a presente euforia propiciada por linhas de crédito ancoradas nos juros mais altos do mundo e na artificial inclusão de 18 milhões de brasileiros no mercado básico do consumo, mediante o repasse de dinheiro, a fundo perdido, do Bolsa Família.

O Brasil precisa muito mais do que isso para se firmar dentre os emergentes, ingressar no primeiro mundo e ter uma estrutura de consumo semelhante à prognosticada no estudo da Ernst & Young e FGV Projetos. Carece, com urgência, das reformas estruturais (tributária, fiscal, previdenciária e trabalhista), irresponsavelmente adiadas desde a promulgação, há 20 anos, da Constituição de 1988; necessita de uma política econômica menos anacrônica, que consiga vislumbrar - muito além da mesmice dos juros altos e do câmbio apreciado - soluções capazes de conciliar crescimento e controle da inflação; e depende da ampliação e modernização da infra-estrutura, em especial nas áreas de transporte e energia elétrica.

Não se trata de alardear pânico e pessimismo, mas dificilmente o Brasil conseguirá continuar crescendo de modo consistente sem realizar com eficácia todas aquelas lições de casa. Como revela o novo estudo, corroborando previsões contidas em relatórios de respeitados organismos multilaterais, o País tem todas as condições de prosperar de modo ininterrupto, incluindo suas imensas áreas agricultáveis, seu programa de biocombustíveis, as novas descobertas de petróleo e gás, clima, solo, indústria e agronegócio avançados.

A história, a geografia e a presente conjuntura mundial colocam a faca e o queijo das oportunidades à disposição do Brasil. Será uma verdadeira inconseqüência desperdiçar tais oportunidades. Sem exagero, somos a nação com o melhor conjunto de vantagens competitivas. Evoluir da ansiedade do “se” para uma nova realidade de desenvolvimento depende, única e exclusivamente, do próprio País. Assim, que o presente e o futuro próximo sejam vislumbrados - pelo governo e os gestores da política econômica - com mais criatividade, ousadia e consideração à qualidade da vida dos 190 milhões de brasileiros.

* Alfried Karl Plöger é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

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