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GRAPHPRINT JAN/FEV 14
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Entre janeiro de 2007 e novembro de 2013 a indústria gráfica brasilei-
ra investiu US$ 10,45 bilhões em máquinas, equipamentos e processos,
equiparando-se em qualidade e padrão tecnológico às melhores do mun-
do. Reflexo desse avanço observou-se no Concurso Latino-americano de
Produtos Gráficos Theobaldo De Nigris 2013, no qual os impressos de nos-
so país ganharam de goleada, e também em certames como o promovido
pela Printing Industries Of America (PIA), considerado o mais importante
no plano internacional. Neste, também temos ganhado vários prêmios de
excelência.
No entanto, a balança comercial do setor, que também deveria ser premia-
da por esse salto tecnológico e de qualidade, que em qualquer nação iria
converter-se em imenso ganho competitivo, sofreu uma dramática virada.
Paradoxal e ironicamente, no mesmo período em que fez o expressivo in-
vestimento, a indústria gráfica viu seu desempenho no comércio exterior
cair de um superávit de US$ 64,46 milhões, ao cabo do ano de 2006, para
um déficit de US$ 253,11 milhões, no acumulado de janeiro a novembro de
2013. Em 2012, o saldo negativo havia sido de US$ 229,01 milhões.
Os números evidenciam uma desconfortável realidade: livros brasileiros,
embalagens de nossos alimentos e outros produtos gráficos estão sendo
impressos no exterior, sacrificando empregos que poderiam ser gerados
aqui, reduzindo a arrecadação de impostos e mitigando os investimentos.
Os reflexos são terríveis para os resultados totais do setor: no terceiro tri-
mestre de 2013, a sua produção encolheu 5,4% em relação ao trimestre
anterior. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a queda acumu-
lada é de 9,3%. Com base nessas estatísticas, a projeção para 2013 é de
um recuo de 5,6%, em comparação com 2012.
Ante a crescente perda de competitividade, a indústria gráfica brasileira
entende serem razoáveis algumas medidas que tem pleiteado, como a
isenção de PIS/Cofins para a impressão de livros, prioridade para obras
rodadas em gráficas brasileiras no Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), margem de preferência para impressos nacionais nas compras do
governo e desoneração do IPI e PIS/Cofins dos materiais escolares. Não
se trata de protecionismo ou qualquer privilégio, mas sim de diminuir um
pouco a desvantagem competitiva em relação a outros países, que vão
tomando conta de nosso mercado.
A perda paulatina da capacidade de competir, que não atinge apenas a
indústria gráfica, mas numerosos setores da manufatura, agrava-se ante
alguns problemas mais recentes: o péssimo resultado da balança comer-
O irônico paradoxo
da indústria gráfica
Por Fabio Arruda Mortara*
cial em 2013; o fator agregado a este do saldo bastante
negativo das transações em contas correntes nas ope-
rações do Brasil com o exterior; e as manobras contá-
beis nos ajustes fiscais do Governo Federal. Tudo isso,
somado à infinita postergação das reformas tributária,
previdenciária e trabalhista, conspira contra a retoma-
da dos investimentos e a favor do aprofundamento das
desconfianças.
O Brasil ainda desfruta de alguns indicadores positivos,
remanescentes de alguns bons momentos de sua eco-
nomia nos últimos anos: taxa de desemprego dentre as
menores do mundo; reservas cambiais em torno de US$
400 bilhões; saúde do sistema financeiro; e mercado
consumidor ampliado pelo bem-sucedido processo de
inclusão e ascensão socioeconômica. Entretanto, esta-
mos colocando tudo isso em risco. Não há ânimo em-
preendedor que se mantenha inabalável ante a trans-
formação de investimentos de US$ 10 bilhões em déficit
comercial setorial de US$ 229 milhões, como ocorreu
com as gráficas. É um irônico paradoxo!
* Fabio Arruda Mortara é presidente da Associação
Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e do
Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo
(Sindigraf) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva
do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp.
ARTIGO