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ARTIGO
GRAPHPRINT DEZ 13
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Os apreciadores da boa leitura de ficção
político-científica estão comemorando
o transcurso dos 60 anos da publicação
do romance “Fahrenheit 451”, do escritor
americano Ray Bradbury. A obra, sucesso
de crítica e público em 1953, também foi
imortalizada no cinema em 1966, com a
produção do longa-metragem cult, sob o
mesmo título, dirigido por François Tru-
ffaut.
O enredo, como se sabe, desenrola-se
num futuro hipotético, quando os livros e
todas as formas de escrita são proibidos
por um regime totalitário, sob o argumen-
to de causarem infelicidade e reduzirem
a produtividade das pessoas. Por isso,
são queimados por um bizarro Corpo de
Bombeiros (daí, Fahrenheit 451, ou 233
graus Celsius, que é a temperatura de
combustão do papel). Quanto aos leitores
clandestinos, pagam pelo “grave crime”
por meio da condenação sumária a um
desconcertante programa de reeducação,
mais conhecido, em termos reais, por la-
vagem cerebral.
No aniversário de 60 anos da publicação
da instigante e assustadora obra, é inevi-
tável estabelecer analogia com a presente
dificuldade que permeia a produção de li-
vros e numerosos outros itens da comuni-
cação impressa no Brasil. Não pela fúria
das chamas, mas pela perda de competi-
tividade da indústria gráfica, a exemplo do
que ocorre com tantos outros segmentos
da manufatura, o País assiste à incinera-
ção do mercado.
Fatores conhecidos, como os altos im-
postos, juros elevados e outros algozes
do custo Brasil, somam-se à renitência
2013, o ano em que
queimamos os livros!
Por Levi Ceregato*
do governo em conceder ao setor – que
congrega mais de 40 mil empresários e
emprega mais de 220 mil trabalhadores –
desonerações da folha de pagamentos e
de alguns incentivos tributários já outor-
gados a outras atividades menos gerado-
ras de mão de obra intensiva. Resultado:
num momento em que o mercado nacio-
nal é atacado ferozmente por fornecedo-
res estrangeiros que perderam espaços
no cenário de crises das nações ricas,
ficamos absolutamente expostos a uma
concorrência desigual.
e informação constituem-se em itens de
segurança estratégica para a soberania
nacional.
Estamos queimando um mercado em que
sempre fomos competitivos e no qual, por
força de elevados e permanentes investi-
mentos em máquinas e tecnologia, temos
excelência similar às melhores indústrias
gráficas do planeta. Felizmente, não vi-
vemos sob um Estado totalitário, como
ocorre com a oprimida sociedade de
Fahrenheit 451. Por isso, com o debate de
ideias e o diálogo, ainda é possível rever-
ter o quadro, mas é preciso que o Estado
saiba ouvir. Afinal, a execução pouco efi-
caz de políticas públicas pode ter efeitos
econômicos tão nocivos quanto a insen-
satez da truculência.
Prova disso é que a competitividade dos
impressores brasileiros está ardendo nas
chamas do descaso, com um setor que,
somente no Estado de São Paulo, emprega
90 mil trabalhadores. É um jeito muito pe-
culiar, numa estranha correlação, de come-
morar os 60 anos de Fahrenheit 451.
*Empresário, bacharel em Direito e
Administração, é o presidente da Regional
São Paulo da Associação Brasileira da
Indústria Gráfica (Abigraf-SP)
“No aniversário de 60 anos
da publicação da instigante e
assustadora obra, é inevitável
estabelecer analogia com
a presente di f iculdade que
permeia a produção de
l ivros e numerosos out ros
i tens da comunicação
impressa no Brasi l .”
Uma das consequências dessa situa-
ção é a impressão na China de milhares
de exemplares de livros brasileiros, até
mesmo livros comprados por programas
governamentais para distribuição nas
escolas públicas. O mesmo se observa
com embalagens de remédios e medi-
camentos, dentre outros produtos gráfi-
cos. Importante lembrar que impressos