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CENÁRIO
GRAPHPRINT MAR 13
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No dia 7 de janeiro o Brasil comemora o
Dia do Leitor. Mas o País precisa avançar
em muitos campos para criar condições
ideais para o aumento do seu índice de
leitura, incluindo a melhora nos níveis de
alfabetismo da população.
Na entrevista a seguir, Fernanda Cury,
(foto) consultora de projetos do Instituto
Paulo Montenegro, uma das responsáveis
pela produção do Indicador de Alfabetis-
mo Funcional (Inaf), fala sobre a realidade
da educação brasileira e a relação entre
alfabetismo e a criação de novos leitores
no País.
“Não adianta simplesmente dar livros
nas mãos das pessoas e esperar que elas
leiam. É necessário mostrar que tipos de
informação, diversão ou outros pontos de
interesse os livros podem trazer para as
pessoas”, alerta Fernanda.
Entrevista
Como avaliar o alfabetismo no Brasil, já que
segundo o último Inaf 6% dos brasileiros são
analfabetos, 21% estão no nível rudimentar,
47% no nível básico e 26% no nível pleno, ou
seja: 27% são considerados analfabetos fun-
cionais e 73% alfabetizados funcionalmente?
Onde temos que avançar para obter índices
mais satisfatórios?
Fernanda Cury:
A avaliação é de que,
ainda que tenha ocorrido uma evolução
nos dados do Inaf de 2001 para cá, tal
evolução está muito abaixo do esperado.
Nesse período de 10 anos a escolarização
média da população aumentou, porém em
proporção superior à elevação dos níveis
de alfabetismo funcional, ou seja, as pes-
soas mais jovens estão tendo um acesso
à educação maior do que as gerações
anteriores, mais gente na escola, porém
a qualidade da educação recebida é infe-
rior à esperada, não cumprindo satisfa-
toriamente seus objetivos. Ainda assim,
cabe lembrar que a escola, apesar de ser
Esqueça o peixe,
ensine a pescar
a principal responsável pela elevação do
alfabetismo funcional da população, não é
a única. Dessa forma, além da urgência da
melhoria da qualidade da educação, ou-
tros atores da sociedade, como empresas,
organizações não governamentais etc.,
podem desenvolver ações com esse mes-
mo objetivo.
Por que não avançamos no campo do alfabe-
tismo pleno, que ficou estagnado nos últimos
10 anos na média dos 26%?
Fernanda Cury:
Um dos principais fatores
é, muito provavelmente, a falta de investi-
mentos voltados à melhoria da qualidade
da educação básica no País. Além disso,
há também a falta de oportunidades de
acesso a meios e conteúdos letrados na
sociedade que ofereçam subsídios para
a melhoria dos níveis de alfabetismo da
população.
O aumento do nível básico de alfabetismo
para 47% da população cria espaço para a
formação de novos leitores no País?
Fernanda Cury:
Não creio que o núme-
ro possa trazer essa relação entre au-
mento de nível de alfabetismo funcional
e formação de novos leitores, ainda que
possamos dizer que o inverso poderia ser
verdadeiro, quer dizer, se aumentasse o
número de leitores possivelmente os ní-
veis de alfabetismo funcional poderiam se
elevar. Mas são suposições, pois não te-
mos esses dados. Na minha opinião, para
que haja a formação de novos leitores no
Brasil deveriam ser tomadas ações dire-
tamente voltadas a esse objetivo. E não
adianta escrever ou imprimir mais livros,
mas sim estimular a leitura através de
ações diretas, como rodas de leituras e
outras.
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil, divulgada no ano passado, a média de
livros lidos nos últimos três meses pelos bra-
sileiros é de 1,85 livro. Os índices de alfabe-
tismo da população podem ser relacionados
a esse baixo índice de leitura?
Fernanda Cury:
Acredito que possa ter
alguma relação, mas definitivamente não
é possível afirmar uma relação exclusiva,
já que diversos fatores são relevantes,
tanto para a elevação dos níveis de alfa-
betismo quanto para o aumento de nú-
mero de livros lidos ou de leitores. O que
o Inaf mostra é que pessoas com maior
nível de alfabetismo leem mais do que as
com níveis mais baixos. Assim, há uma
relação, mas não dá para dizer o que vem
primeiro, se o maior nível de alfabetismo
ou o interesse/quantidade de leituras.
De acordo com a mesma pesquisa, o número
de leitores no País é de 88,2 milhões de pes-
soas. Como a alfabetização pode aumentar a
penetração da leitura? Basta estar alfabeti-
zado para ler ou é preciso criar mais interes-
se nas pessoas?
Fernanda Cury:
Na minha opinião é
preciso criar interesse pela leitura. Não
adianta simplesmente dar livros nas mãos
das pessoas e exigir ou esperar que elas
leiam. Primeiro, é necessário mostrar que
tipos de informação, diversão ou outros
pontos de interesse ou utilidade os livros
podem trazer para as pessoas. Claro que
dificilmente se conseguirá que pessoas
com baixos níveis de alfabetismo consi-
gam captar as mensagens de todos os
livros, já que elas têm dificuldades na
compreensão das informações, mas as
ações podem andar juntas e alcançar os
dois objetivos simultaneamente.