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ARTIGO
GRAPHPRINT DEZ 12
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Um problema recorrente enfrentado pelas gráficas no Brasil, a falta de competitividade,
devido aos enormes custos operacionais locais, associado aos preços dos insumos no país,
em virtude da carga tributária, está sendo potencializado por erros cometidos pelo governo
federal. Muito provavelmente por influência de um setor de nossa economia que sempre
viveu amparado por benefícios e que não sabe encarar a concorrência natural de uma eco-
nomia de mercado.
Esse cenário, que já era negativo, vem ficando ainda pior desde o ano passado, quando, den-
tro do pacote de medidas protecionistas adotadas contra vários setores, o governo resolveu
suspender a licença automática de entrada no país para diversos tipos de papéis importa-
dos. Em alguns casos, como, por exemplo, o cuchê, o Brasil não é sequer autossuficiente, já
que existe apenas um produtor brasileiro que não atende todo o mercado, sendo necessária
a importação para abastecer a demanda. A produção nacional de cuchê atende, quando
muito, 50% da demanda doméstica. O Brasil “protege” quem não produz.
Como consequência da menor concorrência, os preços do insumo no mercado interno têm
ficado cada vez mais altos e o resultado disso é que vêm ocorrendo demissões e uma queda
no nível de atividade das empresas gráficas brasileiras. Segundo a Associação Brasileira da
Indústria Gráfica (Abigraf), o PIB da indústria gráfica diminuiu 0,6% no primeiro semestre
deste ano, ante igual período de 2011. Entre junho de 2011 e junho de 2012, 1.287 vagas
foram fechadas.
O setor é formado por mais de 20 mil empresas, que empregam 221 mil pessoas, sendo que
cerca de 80% delas são consideradas microempreendimentos. As empresas estão fechando
porque não conseguem competir com os produtos gráficos vindos de fora. A situação cau-
sada pelo protecionismo brasileiro, de um lado, paradoxalmente, gerou um desequilíbrio na
outra ponta. Hoje vale mais a pena importar impressos “prontos”, como no caso dos livros
didáticos, revistas e embalagens, fabricados no exterior, para depois distribuir aqui, do que
produzir no país.
Enquanto as compras externas do insumo encolheram 7,6%, as compras de produtos grá-
ficos aumentaram 8,3% no primeiro semestre quando comparadas com 2011. Tal condição
deve se agravar com a mais recente intervenção do governo no mercado, com efeitos para
toda a cadeia gráfica, incluindo a rede de distribuidores, também constituída por empre-
Caminho para o desastre
“Com os insumos cada vez mais caros, a competitividade
das gráficas tende a atingir níveis próximos de zero.
Tudo isso ocorre porque o Poder Público tem tomado
decisões equivocadas que visam claramente favorecer,
de imediato, um tipo de indústria, tendo à frente uma
única grande fabricante papeleira nacional.”
Por Geraldo Ferreira*
sas de médio e pequeno porte: o absurdo
aumento na alíquota de importação, de
14% para 25%, em vigor desde o início de
outubro deste ano, para uma lista de cem
itens, sendo seis de tipos de papéis. En-
tre estes, mais uma vez o papel revestido
cuchê e o cartão, utilizado na produção de
embalagens.
Com os insumos cada vez mais caros,
a competitividade das gráficas tende a
atingir níveis próximos de zero. Tudo isso
ocorre porque o Poder Público tem toma-
do decisões equivocadas que visam clara-
mente favorecer, de imediato, um tipo de
indústria, tendo à frente uma única grande
fabricante papeleira nacional. Uma con-
tradição evidente entre o discurso oficial,
também evocado pela associação que
representa essa mesma indústria, aparen-
temente preocupado em defender os ne-
gócios locais. Tais ações em médio prazo
podem, ao contrário, ser responsáveis por
destruir a indústria gráfica nacional e já
provocam desemprego.
* Geraldo Ferreira é diretor geral da Cathay
Brasil.