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ENTREVISTA
GRAPHPRINT DEZ 12
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Os quadrinhos, por exemplo, chegam rapidamente ao leitor.
Acredito que a criação do museu será um catalisador do pro-
cesso de valorização do artista gráfico. Há ainda a questão
do acervo que está se perdendo. A frase não é minha, mas
um povo que não tem suas razões segue as razões do outros.
GRAPHPRINT: O Poder Público, o Estado, tem consciência
do tesouro que temos para ser exposto?
Eliseu Gabriel:
O Brasil, em 1837, começou com isso e cer-
tamente foi o primeiro do mundo. Por outro lado, talvez, seja
o último a reconhecer. Nós queremos por lei, pois antes era
por decreto. A lei dá compromisso ao Poder Público, que não
necessariamente terá de bancar o projeto todo, mas terá que
implantar.
Já a forma de negócio, se vai ser parceria público privada e
como será gerido são outros detalhes que ainda não foram
definidos. Sei que tem de existir e proveniente de uma lei tem
mais perenidade, mais segurança.
Quanto à pergunta do Poder Público,
recentemente tivemos aqui na Câmara
uma reunião, ou melhor, uma CPI do Be-
las Artes. Pela legislação, o Poder Públi-
co tinha de salvá-lo, mas não é sensível
à causa.
É necessário ter um movimento social
que pressione o Parlamento, pressione
o Executivo para dizer que isso é importante. Teoricamente,
as leis falam da importância de um museu, mas tanto o Es-
tado como o Poder Público precisam ser sensibilizados. E o
Parlamento é o melhor caminho.
GRAPHPRINT: Falta, então, mais ação da sociedade?
Eliseu Gabriel:
O tempo de democracia no Brasil ainda é
muito pequeno. Até 1930, o Brasil era uma chácara, uma
fazenda inglesa. Por aqui não havia nada. Tínhamos uma
industrialização inicial dos europeus que estavam chegando
ao País, sendo que em 1930 o processo de industrialização
começou a existir.
Houve um grande corte, uma luta entre os setores ligados
aos interesses industriais e de desenvolvimento do País
contra o setor agrário. Ganhou o Getúlio Vargas, que repre-
sentava esses interesses. Passamos pela turbulência gera-
da pela II Guerra Mundial, pois antes o mundo vivia bipolari-
zado entre o fascismo e o comunismo.
Então foi difícil ter um espaço de democracia, mas mesmo
assim muitas coisas foram criadas no Brasil, como o Parque
Nacional do Xingu. Mesmo assim, a primeira universidade
brasileira foi criada em 1934, quando há séculos outros pa-
íses já tinham. Podemos sentir o quanto incipiente é isso.
Entre 1946 até 1964, tivemos um curto período de demo-
cracia, com o pessoal de esquerda sendo acompanhado de
perto. Depois vieram 25 anos de ditadura e só recentemente
começamos a respirar a democracia novamente.
É por isso, também, que o Poder Público não está sensibili-
zado. A máquina pública e a sociedade são pouco sensíveis.
Falta ainda acumular cultura, conhecimento. Mas estamos
aqui para isso. A pressão democrática do Jal é válida. É as-
sim que funciona, é sensacional viver isso.
“Os quadrinhos, por exemplo, chegam
rapidamente ao leitor. Acredito que a criação
do museu será um catalisador do processo
de valorização do artista gráfico. Há ainda a
questão do acervo que está se perdendo. A
frase não é minha, mas um povo que não tem
suas razões segue as razões do outros.”
José Alberto Lovetro, presidente da Associação dos
Cartunistas do Brasil (ACB), Eliseu Gabriel, vereador e
Gualberto Costa, presidente do Instituto Memorial das Artes
Gráficas do Brasil (Imag). Lovetro e Costa são os grandes
incentivadores do Museu de Artes Gráficas