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ARTIGO
GRAPHPRINT SET 12
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abandonarão seu tradicional hábito, tam-
bém devemos aceitar que as novas gera-
ções não vão dar continuidade a essa práti-
ca que será, em futuro próximo, considerada
arcaica e inaceitável.
Muitos alegam que a informática demorará
para atingir a maioria da população brasi-
leira. Mas, em contrapartida, deve-se consi-
derar que os preços dos computadores, que
dão acesso à internet, estão despencando
e a presidenta Dilma tem como uma das
metas a inclusão digital. As escolas particu-
lares e algumas públicas já utilizam meios
eletrônicos, que aumentam vertiginosamen-
te ano a ano.
Talvez tudo isso que escrevo não passe de
exercício de futurologia, mas as evidências
devem levar-nos a pensar no assunto, com
realismo, para que em breve as distribuido-
ras de papel não sejam atropeladas por uma
esferográfica qualquer.
As pessoas com mais de 50 anos devem lembrar-se de que, nas décadas de 50 e
60, todo estudante, ao terminar o curso ginasial, era presenteado com uma caneta
Parker 21. Quem concluía o científico, ou o clássico, ou o normal recebia a modelo
51. No final dos cursos, a maioria era premiada com a Parker 61, o máximo na linha
das canetas-tinteiro, o suprassumo que alguém pudesse almejar.
Essas canetas eram consideradas verdadeiras joias pelo alto custo e pelo valor sen-
timental que representavam. Lembro-me de que, certa vez, uma Parker sumiu em
minha escola e a diretora ordenou que todos fossem revistados. A indignação e a re-
volta dos alunos foram violentas. No final da revista, não foi encontrada a joia. Só no
dia seguinte o denunciante do suposto furto teve coragem e honestidade bastantes
para informar que esquecera a caneta em casa e desculpar-se do imbróglio. Apesar
de correto e honesto, o desmemoriado sofreu, por algum tempo, muitas restrições
dos colegas, inconformados com a humilhação sofrida.
Algum tempo depois, ocorreu o lançamento da caneta esferográfica, de custo insig-
nificante, prática, de funcionamento perfeito que, sem dúvida, condenou a Parker
ao esquecimento em quase todas as áreas da atividade humana. No princípio, a
esferográfica teve dificuldade de aceitação porque interesses comerciais criaram
obstáculos de toda natureza, tais como, exemplificativamente: o uso dela favore-
ceria fraudes no preenchimento de cheques e na redação de documentos manus-
critos; o texto com ela redigido seria facilmente apagado e substituído por outro do
interesse do falsificador. Era uma série imensa de inverdades bem elaboradas para
amedrontar incautos.
O correr do tempo encarregou-se de comprovar que, na verdade, a caneta- tinteiro
estava superada e, de certa forma, obsoleta, cabendo, aos seus fabricantes confor-
mar-se com a imperiosa alternativa de produzir esferográficas, o que ocorreu, como
mostram os dias de hoje.
Isso leva-nos a meditar sobre outras mudanças e transformações muito mais sig-
nificativas e decisivas, que devemos aceitar, queiramos ou não, impostas pela glo-
balização e que podem atingir-nos. Elas alcançam, rápida e amplamente, todos os
quadrantes e influem decisivamente até na mudança de costumes seculares de
sociedades infensas a novidades. Há muito já se comenta que o papel de imprimir
e escrever será a caneta-tinteiro dos próximos anos, pois com a internet e os livros
eletrônicos as novas gerações não vão querer ler jornal ou livro impressos.
Muitos discordam dessa previsão, até com um toque de ironia, porém o mais sensa-
to é que todos envolvidos na distribuição de papel tenham os pés no chão e admitam
essa possibilidade para, desde já, buscar alternativas para o futuro.
Sintomas não faltam para justificar a preocupação, que não é utópica. O dia a dia
convive com exemplos marcantes: os jornais do mundo todo reduzem as tiragens
ano a ano; as revistas são lidas cada vez mais nos meios eletrônicos. Quanto às
listas telefônicas, em franca agonia, quem se dá ao trabalho de consultá-las se, no
site da operadora, com alguns toques no teclado, o consulente tem a informação?
Se admitirmos que os leitores de jornais, livros e revistas impressos dificilmente
Mudanças na distribuição de papel
Por Vicente Amato Sobrinho*
*Presidente do Sinapel - Sindicato Nacional do
Comércio Atacadista de Papel e Papelão