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ARTIGO
GRAPHPRINT MAR 12
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Livreiros independentes ficaram de fora das vendas da edição especial de
Guimarães Rosa, “Os Caminhos do Sertão de João Guimarães Rosa”, numa
caixa, com outro livro dele, “A Boiada”, várias notas e prefácios de “Grande
Sertão Veredas”, enfim, uma preciosidade proibida. Temos acompanhado
nos últimos meses uma ampla discussão sobre o livro popular, debate este
articulado pela FBN (Fundação Biblioteca Nacional) com a intenção de im-
plantar políticas públicas voltadas para o mercado editorial e livreiro, visan-
do a modificar os sofridos índices de leitura de nosso país.
Essa discussão representa grande avanço na democratização do acesso ao
livro e, consequentemente, na ampliação do público leitor em nosso país.
Louvamos a iniciativa e reconhecemos que, se aplicadas de forma coerente,
tais políticas beneficiarão não somente os novos leitores, mas também as
fragilizadas livrarias independentes. Oxalá seja essa a aguardada oportuni-
dade para assistirmos à disseminação de novos pontos de vendas de livros
nas pequenas e médias cidades brasileiras.
Este pode ser um oxigênio renovado para um mercado que hoje se encontra
totalmente sufocado pela concentração que favorece grandes grupos edi-
toriais e grandes redes de livrarias. Como reflexo dessa concentração de
mercado temos editoras produzindo «edições exclusivas». Ou seja, temos
obras destinadas à venda em uma única cadeia de livrarias. Tiragem exclu-
siva de uma edição especial de Guimarães Rosa, «Os Caminhos do Sertão
de João Guimarães Rosa», uma preciosidade que os demais livreiros estão
“proibidos de vender”.
Outro exemplo é a «História da literatura universal», de Otto Maria Carpeaux,
mais uma venda exclusiva. Por que impedir a grande maioria das livrarias
de comercializar uma obra tão importante como essa? Como o escritor e
jornalista Carpeaux reagiria se ainda estivesse entre nós? Somos obriga-
dos a perguntar: onde mais, em que país do mundo, isso seria concebível?
Infelizmente, o país que queremos transformar em um país de leitores é o
mesmo país em que esse cenário se mostra como parte de uma realidade
que precisa ser superada. Livros não se confundem com produtos de limpe-
za ou alimentos que são frequentemente objeto de exclusividade de suas
lojas. Livros dizem respeito à cultura e à diversidade cultural!
Trata-se de significativa contradição encontrar um editor lançando obras
para que sejam vendidas numa única rede. Quando se afirma que a única
Pequenas e médias livrarias sofrem com
a concentração de mercado e a nossa
bibliodiversidade é comprometida
Por Ednilson Xavier*
saída para baratear o custo dos livros é o aumento das
tiragens, fica incompreensível a redução nas opções de
comercialização. Multinacionais, as mais renomadas,
querem sempre aumentar o número de seus pontos
de venda, jamais reduzi-los! A grande comerciante é
aquela que se expõe nas grandes redes, mas também
está acessível aos pequenos comerciantes. Nossa cul-
tura é a nossa identidade. A leitura é um bem universal
que novas políticas públicas tentam disponibilizar a to-
dos. Concentrar na mão de poucos o acesso a bens tão
necessários gera uma cadeia de preterição. Uma ca-
deia montada para favorecer as “grandes superfícies”.
As editoras brasileiras, por sua vez, são chamadas a
resolver se ainda desejam ter como clientes a vasta
rede de comercialização que abrange todo território
nacional, com micro, pequenas, médias e grandes li-
vrarias, ou preferem vender apenas para um punhado
de conglomerados. Por isso é necessário que a socie-
dade civil reconheça nas micros, pequenas e médias
livrarias uma alternativa à manutenção da nossa biblio-
diversidade.
As livrarias são um fenômeno institucional complexo,
com missão complexa e de grande fragilidade. Não
* Ednilson Xavier é executivo na área de livrarias há 32
anos e presidente da Associação Nacional de Livrarias
(ANL) www.anl.com.br