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GRAPHPRINT MAR 12
EDITORIAL
Atrás da orelha, a pulga - também
- vive no Primeiro Mundo
Em um domingo chuvoso, em pleno verão, tinha a opção de afundar no sofá ou
convidar a esposa para um passeio que instiga a população paulistana: visitar li-
vrarias na cidade de São Paulo. Decidimos, então, que a segunda opção era melhor
tanto mental como fisicamente.
Nas prateleiras das mais diferentes livrarias, o sucesso mundial, com mais de
4 milhões de exemplares vendidos, “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert,
que conquistou as mulheres ao redor do mundo. Em plena decisão da compra,
deparamo-nos com um detalhe perturbador: a edição em português exposta a R$
43,12 e a editada em inglês a R$ 17,00. A diferença mais notável é que a edição
em inglês fora produzida com um papel menos nobre. O único argumento - e isso
não quer dizer que é válido - para justificar tal diferença seria o papel. Na capa de
ambos não há acabamento diferenciado, muito menos recursos gráficos meticu-
losos. Alguém, por gentileza, pode explicar a diferença de R$ 26,12? Para fechar
o caso, minha esposa decidiu levar o livro. Claro que escolheu a edição em inglês.
Sim, ela sabe ler nessa idioma.
Com a pulga atrás da orelha fiquei. Perguntei à minha mente como podemos arcar
com um preço mais elevado do que o praticado nos Estados Unidos? Para mim,
que nem sei muito bem lidar com conta, a própria conta dessa vez não fecha.
Como dúvida pouca é bobagem, após um banho de livraria resolvi comprar o jor-
nal. Eis que, no caderno de Economia, vem estampada a manchete: “Custo de vida
do Brasil supera o dos EUA”. Pronto, era o que faltava para que a pulga, que estava
atrás da orelha, começasse sua ascendência de saltos ornamentais.
Dizia a matéria, produzida por Fernando Dantas, do Rio de Janeiro, que o custo de
vida do Brasil superou o dos EUA em 2011 quando medido em dólar, segundo da-
dos do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o PIB de 187 países-membros.
Definitivamente, o fato é anormal para um País emergente. Em uma lista do FMI
de 150 países em desenvolvimento, o Brasil é praticamente o único cujo custo de
vida superou o americano em 2011. Isso significa que é o mais caro em dólares de
todo o mundo emergente.
Vamos a outros exemplos: nos EUA um automóvel Corolla 1.8 GL manual 2012
custa R$ 34.268, e no Brasil, R$ 63.570. Matricular-se numa academia, com di-
reito a aulas de natação, custa, no Brasil R$ 690 mensais. Nos EUA, o valor cai
para R$ 382 mensais. O iPad 2Wi-Fi 64GB é vendido no Brasil ao preço de R$
2.569. Nos EUA, o mesmo equipamento custa R$ 1.623. Evidente que há vários
outros serviços, produtos, imóveis etc. que são bem
mais caros – ainda – em Nova York. Mesmo assim, os
saltos da pulga insistem em ressoar a questão: como
viver adequadamente se os serviços pesam mais no
bolso em SP do que em NY?
Quer saber outro paradoxo, dessa vez inerente à in-
dústria gráfica, e que se relaciona ao tema principal
deste editorial, vivido no Brasil? Hamilton Terni Costa,
diretor da ANconsulting e entrevistado desta edição,
observa que “hoje, os profissionais estão sendo le-
vados a trabalhar com níveis de preços baixos. São
esses níveis baixos que pressionam a eficiência.”
Voltando às contas, com a pulga no torce/retorce, não
achei um meio de fechá-las. Concluo, de forma sim-
plificada, que para adquirimos itens inerentes à vida
é preciso enxugar o preço daquilo que produzimos.
É isso? A resposta é sua. Mas, porém, contudo, to-
davia, tenho a impressão que a pulga e o percevejo
realmente fizeram combinação e embaixo do meu, do
seu e do nosso colchão há uma serenata. E seus in-
gressos estão com valores exorbitantes.
Saudações Graphprintenses
Fábio Sabbag