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RESPONSABILIDADE SOCIAL
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O projeto social “Reciclando Papéis e Vidas”, da Associação Brasileira Técnica
de Celulose e Papel (ABTCP), em parceria com a Fundação de Amparo ao Preso
(Funap), a ONG Design Possível, a Universidade de Brasília e o Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (Senai), completou três anos em 2011. Focado em
qualificar profissionalmente e gerar renda aos reeducandos do regime semia-
berto do Centro de Progressão Penitenciária Dr. Edgard Magalhães Noronha, o
Pemano de Tremembé, interior de São Paulo, o projeto vem conseguindo trans-
formar a vida de detentos por meio do ensino do ofício da fabricação de papel
artesanal, além de despertar o espírito empreendedor nos participantes.
Atualmente, dez reeducandos participam do projeto, e desde o seu lançamen-
to, em 2009, mais de 50 aprenderam a arte da fabricação de papel artesanal
utilizando a reciclagem e outras fibras, entre elas a palha de arroz, a grama e a
bananeira para a elaboração de envelopes, agendas e embalagens. As ativida-
des acontecem em um galpão da Funap, onde está instalada a oficina artesanal.
De acordo com gerente institucional da ABTCP, Francisco Bosco de Souza, os
papéis ou produtos acabados são posteriormente comercializados no atacado
ou varejo. A receita obtida é revertida à própria oficina e para a remunera-
ção dos reeducandos, que recebem uma bolsa-auxílio no valor de um salário
mínimo. Três dias de trabalho no projeto proporcionam um dia de redução da
pena. “Buscamos oferecer aprendizado de um ofício aos reeducandos, além de
estimular o empreendedorismo em cada um deles, contribuindo assim para a
reinserção dessas pessoas na sociedade”, observa Souza. O mais importante
Projeto “Reciclando Papéis e Vidas”,
da ABTCP, completa três anos
Mais de 50 reeducandos já aprenderam o ofício da fabricação de
papel artesanal na oficina montada em Tremembé
A receita obtida é revertida à própria oficina e para a
remuneração dos reeducandos, que recebem uma bolsa-
auxílio no valor de um salário mínimo. Três dias de trabalho
no projeto proporcionam um dia de redução da pena.
são os novos valores que são assimilados, como
o companheirismo, o trabalho em equipe, a cola-
boração, a disciplina, a valorização profissional, o
reconhecimento e a visão de oportunidade futura
e do próprio negócio.
Um exemplo do sucesso do projeto é o ex-detento
Ezequiel Rosende, 43 anos. Preso por tráfico de
drogas em 2003, ele participou das atividades na
oficina por dois anos, após ser beneficiado pelo
regime semiaberto, época na qual aprendeu todas
as etapas de fabricação de papel artesanal e rece-
beu o certificado de artesão da Superintendência
do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco).
“Quando vi um saco de cimento se transformar
em uma bonita folha de papel percebi que a minha
vida também podia ser transformada”, afirmou
ele. “Trabalhávamos de segunda-feira a sexta-
-feira, das 8h às 17h, e confesso que eram as me-
lhores horas do dia, pois estávamos aprendendo
e ainda recebíamos uma remuneração por isso.”
Nos dias de hoje Rosende é microempresário. Já
cumpriu sua pena e montou uma fábrica de es-
tofados em Guaratinguetá, interior de São Paulo.
Com o lucro do negócio ele sustenta sua família e
paga sua casa própria. “Só tenho a agradecer pela
oportunidade que tive.” Para o futuro, ele planeja
ter sua própria oficina de papel artesanal, não só
para sustento próprio, mas também para ajudar
outros ex-presos que, como ele, deixam a cadeia
com poucas oportunidades de trabalho.