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ARTIGO
Para a indústria gráfica brasileira, cuja
balança comercial, como vem ocorrendo
com quase todos os setores da manufa-
tura, vem acumulando déficit crescente,
é muito importante o redirecionamento
que parece estar em curso na política
econômica e na visão das autoridades do
setor. Um exemplo é a decisão do Comitê
de Política de Política Monetária do Banco
Central (Copom) de reduzir por duas vezes
consecutivas a taxa básica de juros.
Dimensionando melhor o significado da
redução da Selic, somente a última queda
de 0,5 ponto percentual significou eco-
nomia de R$ 8,5 bilhões para o governo
no pagamento do serviço da dívida públi-
ca. Estima-se que em 2011 a União terá
de despender R$ 250 bilhões para arcar
com os juros. Nos últimos oito anos, fo-
ram mais de R$ 2 trilhões. São recursos
vultosos alimentando a ciranda financeira
atrelada ao endividamento público, que
beneficia somente o setor bancário.
Assim, as entidades de classe represen-
tativas da indústria de transformação e de
todos os setores produtivos devem refor-
çar a atitude positiva do governo, incluin-
do algumas práticas de defesa comercial,
e das autoridades monetárias. É preciso
que o juro continue caindo em nosso
país. Ecoam como improcedentes as re-
ações de alguns segmentos quanto ao
risco de descontrole inflacionário. Afinal,
não temos inflação de demanda. Nosso
setor é exemplo disso. Quantas gráficas
não estariam conseguindo atender neste
momento ao seu volume de pedidos e, por
isso, aumentando preços? Ora, sabe-se
que as pressões inflacionárias decorrem
A causa da competitividade
na agenda do desenvolvimento
da majoração das commodities, da ener-
gia e de fatores vinculados à conjuntura
internacional.
Nesse novo contexto, em que o governo
parece ter percebido a importância de
resgatar a competitividade de nossa eco-
nomia, em especial da indústria, há outras
importantes tarefas estratégicas a serem
cumpridas. Já passou da hora de se re-
alizarem as reformas estruturais, como a
tributária, a trabalhista e a previdenciária.
O anacronismo desses três sistemas é um
dos mais perversos algozes das empresas
brasileiras, onerando demasiadamente
seus custos.
O Brasil precisa de um sistema tributário
que estimule e não reprima a economia,
e menos burocrático. Também não pode-
mos continuar com encargos sociais so-
bre a folha de pagamentos que reduzam o
salário real dos trabalhadores e agravem
a rubrica orçamentária das empresas re-
ferente aos recursos humanos. E, ainda,
não podemos continuar gerando pesado
déficit para pagar aposentadorias tão bai-
xas, às quais estão “condenados” hoje os
trabalhadores brasileiros.
Outra ação urgente é o combate rigoroso
à corrupção. Aliás, se esta fosse radical-
mente menor, já poderíamos estar pagan-
do menos impostos. O dinheiro desviado
pela improbidade é cobrado da sociedade,
que não pode mais continuar financiando
políticos, dirigentes e ocupantes de car-
gos públicos que não primem pela ética
e a prática da lei. Assim, que a presidenta
Dilma Rousseff continue firme na sua ati-
tude de demitir os transgressores e inves-
tigar até as últimas consequências toda e
qualquer denúncia.
E que se mantenha o apoio ao mercado
interno, amplamente difundido pela pre-
sidenta. De fato, ele é prioritário e deve
ser cada vez mais estimulado e fortalecido.
Para o enfrentamento do cenário adverso
do imbróglio fiscal dos Estados Unidos e
nações europeias, são muito válidas as li-
ções de 2008 e 2009. À época, a ascensão
socioeconômica de milhões de brasileiros
nessa década e a adoção de medidas anti-
cíclicas que lhe permitiram consumir com
responsabilidade deram ao País a possibi-
lidade de emergir rapidamente e sair forta-
lecido da crise mundial do sub-prime.
Considerando o atual dinamismo de nossa
economia, temos oportunidade histórica
e mais tranquilidade para solucionar os
problemas persistentes do Custo Brasil,
como os impostos, encargos sociais e a
corrupção, que atentam contra a com-
petitividade nacional. Portanto, cabe aos
setores produtivos cobrarem e apoiarem
atitudes dos governantes que atendam a
essas prioridades de nossa agenda do de-
senvolvimento. A indústria gráfica paulis-
ta, aliada à nacional, está plenamente en-
gajada nessa causa da competitividade.
* Presidente da Abigraf Regional São Paulo
Por Levi Ceregato*