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ARTIGO
GRAPHPRINT DEZ 11
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O aspecto mais relevante da Pesquisa sobre
Produção e Vendas do Mercado Editorial Bra-
sileiro, que acabamos de divulgar, refere-se ao
crescimento, entre 2009 e 2010, de 8,3% do nú-
mero de livros vendidos, se considerarmos ape-
nas o movimento em livrarias, internet e porta a
porta, dentre outros canais, excluindo compras
governamentais e de entidades sociais. Por ou-
tro lado, o faturamento relativo a esse recorte
mercadológico da comercialização sofreu um
decréscimo real de 2,24%. Isso significa que o
preço médio do livro diminuiu 4,42% em 2010.
Entre 2008 e 2009, a pesquisa anual da Câma-
ra Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional
dos Editores de Livros (Snel), realizada pela Fipe,
já havia registrado redução de 3,52% nos pre-
ços. Os números são ainda mais consistentes se
lembrarmos que edições anteriores do estudo já
apontavam, no período de 2004 a 2008, quedas
acentuadas de preços dos livros: 24,5% no seg-
O brasileiro está lendo mais e
pagando menos
Karine Pansa*
*Karine Pansa, empresária do mercado editorial, é a presidente da Câmara Brasileira do
Livro (CBL)
mento de didáticos; 22,4% no de obras gerais; 38% no de religiosos; e 23,3% no
de científicos, técnicos e profissionais.
Outro aspecto muito relevante da pesquisa 2011 refere-se ao crescimento de 4,96
pontos percentuais da comercialização de livros porta a porta, fundamental num
país com as dimensões do Brasil, no qual ainda há carência de pontos de venda
em bairros afastados das grandes cidades e numerosos municípios mais distantes
das regiões metropolitanas. Em 2009, 39,74 milhões de livros haviam sido comer-
cializados por esse canal, representando 16,64% do total. Em 2010, foram 56,04
milhões de exemplares, significando 21,66 %.
Esse avanço evidencia que as classes C e D estão comprando mais livros. O porta a
porta é um canal decisivo de acesso para os 53 milhões de brasileiros, contingente
superior à população da Espanha, que o estudo “O Emergente dos Emergentes”,
da Fundação Getúlio Vargas e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, indi-
cou terem entrado no mercado consumidor desde 2003.
Outra tendência que se manteve em 2010 é de aumento da edição de novos títulos,
com crescimento de 8,9%. Isso significa mais opções para o público leitor e opor-
tunidades maiores para o surgimento de novos escritores. Tal constatação é cor-
roborada por outros números constantes da pesquisa: em 2010, foram publicados
51,68 mil títulos de autores brasileiros, significando crescimento de 32,64% em
relação aos 38,96 mil do ano anterior. Quanto aos exemplares relativos aos títulos
nacionais, o número de exemplares produzidos cresceu 29,6%.
De modo análogo ao maior número de títulos e de autores nacionais, também é
interessante notar, na pesquisa 2011, que os livros de literatura, com 22,32% de
participação no mercado total, ocupam o segundo lugar. Ficam atrás apenas dos
didáticos, que representam 45,72%, e à frente dos religiosos, que figuram no ter-
ceiro lugar e cuja participação é de 10,30%. Literatura adulta significa 8,05% do
total do mercado; infantil, 5,38%; e juvenil, 8,89%.
A novidade da pesquisa 2010 é que ela incorporou um censo do mercado, realiza-
do periodicamente, que corrigiu a base de dados relativa a 2009. O estudo mostrou
que há no Brasil 750 editoras ativas. Dentre estas, 498 enquadram-se na classifi-
cação da Unesco: edição de pelo menos cinco títulos e produção mínima de 5 mil
exemplares por ano. As 498 empresas que atendem a tais critérios dividem-se da
seguinte forma:231 têm faturamento até R$ 1 milhão; 189, entre R$ 1 milhão e R$
10 milhões; 62, entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões; e 16 têm receita acima de
R$ 50 milhões.
É animador constatar que, muito além de mostrar um setor editorial em expansão,
os números da pesquisa 2011 revelam que o Brasil tem avançado no sentido de
se consolidar como um país de leitores. É verdade que ainda há muito a ser feito,
mas estamos no caminho certo.