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ARTIGO
Ao contrário do que se difunde no chamado inconsciente coletivo,
o período de maior crescimento do número de títulos de jornais
no Brasil é simultâneo ao boom da internet. Em 2001, eram 1.980
periódicos em circulação. Em 2009, o total alcançou 4.148. Esses
dados da ANJ (Associação Nacional de Jornais), que revelam ex-
pansão de 109,5% em oito anos, evidenciam que a web e as novas
tecnologias complementam e, ao mesmo tempo, constituem uma
base para a ascensão da mídia impressa.
Outro indicador relativo à credibilidade e solidez dos jornais refere-
se à evolução dos investimentos em propaganda nesses veículos,
que saltaram de R$ 1,97 bilhão, em 2001, para R$ 3,13 bilhões,
em 2009, conforme também é possível constatar nas estatísticas
daquela entidade. O aumento foi de 58,7%. No ano passado, os
periódicos responderam por 14,97% do aporte de recursos em
publicidade no País, perdendo apenas para a televisão. A internet
ficou com 4,27% do total. 
Outra boa notícia refere-se ao crescimento da circulação média
dos jornais no Brasil no acumulado de janeiro a abril de 2010, que
foi de 1,5% em comparação com o mesmo período do ano passa-
do, e de 1,7% em relação ao primeiro quadrimestre de 2008. Essa
informação do IVC (Instituto Verificador de Circulação) corrobora
estimativa de estudo da Pricewaterhouse Coopers: a circulação
dos jornais impressos crescerá na América Latina nos próximos
cinco anos, mesmo que a crise econômica ainda não tenha sido
completamente superada. A maior expansão dar-se-á no Brasil
(2,2%), seguido por Argentina (1,4%). A exceção, por motivos ób-
vios, fica por conta da Venezuela, onde se prevê queda de 0,2%.
É claro que o advento da web apresenta impacto no mercado dos
jornais. Tanto assim que todos eles já têm sua edição digital, a
maioria, protegida, reservada apenas aos assinantes da impressa.
Paulatinamente, os fatos do dia, em sua versão mais imediata e
urgente, vão se caracterizando como noticiário dos sites informa-
tivos, cabendo aos jornais impressos a publicação de informações
com mais detalhes, infográficos, opiniões mais diversificadas so-
bre o tema e maior esforço de apuração. Ademais, seu texto já
incorpora críticas, correções de equívocos e sugestões possibili-
tadas pela interatividade da internet. É, portanto, mais aprimorado
na forma e no conteúdo.  
No ambiente contemporâneo da comunicação, nota-se sinergia e
complementaridade entre as mídias. Todas ajustam-se ao cenário
JB é uma contradição na
convergência das mídias
Por Fabio Arruda Mortara*
da convergência, que se consolida como um eficiente modelo. Os
jornais do interior, por exemplo, ganham crescente significado e
ampliam sua circulação à medida que focam de modo prioritário
as questões locais e regionais. Os anunciantes, há tempos, perce-
beram o seu potencial econômico, expresso no perfil de seu públi-
co, que é formador de opinião e tem poder aquisitivo. Os grandes
diários, de peso e distribuição nacionais, ajustam suas tiragens e
circulação à nova realidade, mas continuam se constituindo em
mídias decisivas para informar e influenciar de modo expressivo
a vida do País.
Considerado todo esse contexto, a extinção da edição impressa do
Jornal do Brasil, um dos mais importantes e influentes veículos
de comunicação que o País já teve, vai na contramão das tendên-
cias de convergência das mídias. Aos 119 anos, o periódico pro-
tagonizou momentos memoráveis. Tinha caráter e personalidade.
Resistiu, como muitos jornais, a graves ataques dos regimes de
força que por aqui se implantaram, e lamento a sua extinção como
mídia gráfica.  Assim como a Gazeta Mercantil, que sucumbiu em
2009, o grande diário carioca deixa irreparável lacuna no jornalis-
mo brasileiro e no cenário urbano. As bancas nunca mais serão as
mesmas... e, por favor, não culpem a internet!
* Fabio Arruda Mortara é empresário, presidente da Associação Brasileira
da Indústria Gráfica (Abigraf Regional São Paulo), do Sindigraf-SP e vice-
presidente da Associação Latino-Americana de Artigos para Livraria e
Papelaría.