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ARTIGO
GRAPHPRINT AGO/10
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Na Feira do Livro de Frankfurt 2009, na qual o Bra-
sil esteve presente com 1.640 títulos e 50 editoras,
um dos temas recorrentes foi o advento do e-book.
Dentre os 7.373 expositores, 361, ou 5%, o incluí-
ram em seus estandes. A novidade apresentada na
maior evento do mercado editorial em todo o mundo
referenda uma realidade ascendente do mercado. Em
2008, o livro digital movimentou mais de US$ 100 mi-
lhões nos Estados Unidos, onde cerca de 80 editoras
já atuam no segmento. Na Alemanha, venderam-se
65 mil unidades no primeiro semestre deste ano.
Não há dúvida de que se trata de uma tendência ir-
reversível o surgimento de um consistente mercado
de equipamentos de leitores eletrônicos, que cativa-
rão parte dos consumidores. Isto não significa o fim
do livro impresso, cujo encanto, praticidade e caráter
lúdico continuarão determinando a preferência de bi-
lhões de pessoas em todo o Planeta. Portanto, mais
do que uma preocupação, e-book deve ser visto como
oportunidade de ampliar o universo do público leitor e
desenvolver uma nova vertente de negócios.
A convivência de distintos processos é uma realidade
em todos os setores de atividade. Saber explorar o
imenso potencial aberto pela convergência significa
multiplicar as possibilidades mercadológicas, criar
novas alternativas e atender de maneira mais eficaz
à demanda. No tocante ao livro impresso, a mescla de
tecnologias já significou um avanço importante. Um
exemplo: a impressão digital, viabilizando tiragens
pequenas, com qualidade quase idêntica à do offset,
possibilita lançar e testar, na realidade do mercado,
maior número de títulos, sem onerar de modo dema-
siado as editoras. O e-book, que reforça a capacidade
de atender com precisão cirúrgica à demanda real,
também abre novas perspectivas, como agregar ima-
gens e som ao conteúdo. 
Cabe ao setor livreiro aproveitar tais possibilidades,
desenvolvendo uma vertente mercadológica promis-
sora e capaz de contribuir para o aumento do número
A saudável convivência do livro
impresso com o e-book
Por Rosely Boschini*
de leitores. As editoras, num futuro não muito distan-
te, serão provedoras de conteúdos, disponibilizados
para o público consumidor em diferentes mídias, seja
a comunicação gráfica ou eletrônica. As livrarias, do
mesmo modo que vendem com sucesso CD e DVD,
terão espaços para os equipamentos de livro digital,
certamente com distintos pacotes de conteúdo.
Obviamente, será necessário um novo ordenamento
dos direitos autorais. Sem tal providência, a ser nor-
malizada internacionalmente, ficará difícil desenvol-
ver e consolidar o mercado do e-book. Segurança
quanto à autenticidade e legalidade dos conteúdos
também será fundamental. Não há dúvida de que a
digitalização de conteúdos editoriais sob a tutela de
direitos legais suscitará facilidades para reprodução
ilegal, ampliando a ameaça de falsificação muito além
das máquinas copiadoras que enfrentamos hoje.
As dificuldades e problemas a serem superados, con-
tudo, não devem impedir o avanço da tecnologia. É
preciso conviver com as transformações, adaptar-se
a elas e as converter em real oportunidade. Claro que
esse processo de adequação é mais fácil quando o
mercado atua de maneira coesa e sinérgica. Nesse
sentido, é fundamental o trabalho das entidades de
classe, como tem feito a Câmara Brasileira do Livro
(CBL), por meio de seu Grupo Digital.. A entidade está
mobilizada também para divulgação em breve de um
relatório produzido pela Comissão do Livro Digital
apresentando o levantamento das questões impor-
tantes e sugerindo recomendações e considerações
em três categorias: mapeamento do mercado, mode-
los de negócios e aspectos legais.
O intercâmbio de informações com os mercados mais
avançados, promoção de estudos, debates, análise
de experiências bem-sucedidas, palestras e a defesa
intransigente dos direitos de todos contribuirão para
que o livro digital seja mais um meio para o suces-
so de nossa meta de converter o Brasil num país de
leitores. 
*Rosely Boschini é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).