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Indústria Gráfica resiste à crise

17/12/2008 - 00:12
Alfried Plöger*

Relatório que acaba de ser elaborado pelo Departamento Econômico da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) demonstra que, de janeiro a setembro de 2008, o setor apresentou crescimento acumulado de 2,8% em relação aos mesmos meses do ano passado. Nos últimos 12 meses, a evolução foi de 2,1%, em relação a igual período imediatamente anterior.

Os resultados do terceiro trimestre também apontam sensível avanço no desempenho geral da indústria gráfica, com crescimento de 5,6% em relação ao mesmo trimestre de 2007. Os números indicam que a atividade vai resistindo bem à crise internacional. Em relação a setembro do ano passado, o setor avançou 9,8%.

A performance específica da indústria gráfica mostra-se superior à verificada nos dois trimestres anteriores. Contribuíram para isso os desempenhos na área de embalagens impressas, especialmente as de plástico, o forte crescimento da produção de jornais e a representativa melhoria do segmento editorial. Assim, os reflexos da crise internacional, iniciada no último mês do trimestre, não afetaram negativamente os resultados do setor, pelo menos até setembro último.

Os números evidenciam que, cada vez mais, o empresariado brasileiro, assim como a força de trabalho, está mais preparado para enfrentar as adversidades. Aliás, trata-se de virtude recorrente dos setores produtivos nacionais, acostumados às crises internas cíclicas e, mais recentemente, aos crashs internacionais, como o da Rússia, o da China, o do México e, agora, este, aparentemente muito mais grave, nascido nos Estados Unidos.

É preciso reconhecer, também, que a economia nacional parece mais bem preparada do que em crises anteriores para enfrentar a turbulência globalizada. A rigor, o sintoma mais agudo percebido no País refere-se ao crédito. A despeito da aparente solidez de nosso sistema financeiro, a obtenção de financiamentos, tanto para investimentos como para capital de giro, está mais difícil. Além disso, refletindo a manutenção da Selic em 13,75% pelo Copom (o que significa os juros reais mais altos do mundo) e o temor quanto a eventuais riscos, o dinheiro ficou mais caro.

Sem a intenção de fazer qualquer vaticínio, inclusive porque ainda não se conhece com precisão o tamanho da crise mundial, ouso estimar que, solucionada a questão do crédito, o Brasil poderia passar com relativa tranqüilidade por essa tempestade do subprime. Tal perspectiva torna ainda mais lamentável o fato de o dinheiro dos depósitos compulsórios liberado pelo governo não estar chegando ao chão de fábrica, aos serviços, ao comércio e ao agronegócio.

É incompreensível a adoção de medida tecnicamente correta no contexto conjuntural, sem o devido efeito prático. A utilização desses recursos para a recuperação rápida do crédito teria efeito muito positivo, amplo e em escala. Oxigenaria as empresas, inclusive no tocante ao capital de giro, viabilizaria investimentos, estimularia novamente a confiança dos consumidores e empresas, com impacto positivo até mesmo nas ações das companhias de capital aberto.

Não seria qualquer gesto de autoritarismo uma eventual medida mais firme do governo quanto à efetivação do repasse do dinheiro dos depósitos compulsórios à economia real. Ao contrário, seria medida altamente democrática, pois estaria atendendo a uma prioridade nacional e beneficiando toda a Nação e os setores produtivos. Exercício da autoridade é algo absolutamente legítimo na democracia. A omissão, contudo, subverte a confiança dos eleitores e a “procuração” que deram aos políticos eleitos para agirem em seu nome, em sua defesa e na preservação dos direitos da maioria.

Os números da indústria gráfica no terceiro trimestre resultam do imenso esforço do setor e também de alguns fundamentos importantes alcançados pela economia nacional. Além disso, demonstram que a indústria como um todo e os setores produtivos em geral estão prontos para enfrentar a crise nascida lá fora. O restabelecimento do crédito seria um imenso e crucial reforço nessa verdadeira epopéia de resistência das empresas e dos trabalhadores brasileiros.

*Alfried Karl Plöger é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca).

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